Otto - Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranqüilos (2009) [RE:POST]

Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranqüilos é o novo e mais esperado CD do Otto no Brasil. Lançado em setembro nos EUA pelo selo Nublu, o disco, que também já circula pela Europa, chega em dezembro ao país pelo selo Arterial Music com distribuição da Rob Digital.

O disco traz dez faixas, oito inéditas, e as participações especiais de Céu, em “O Leite”, da mexicana Julieta Venegas, em “Lágrimas Negras” e “Saudade”, e de Lirinha em “Meu Mundo Dança”. Na banda estão Catatau (guitarra), Pupillo (bateria e percussão) e Dengue (baixo). A produção é de Otto e de Pupillo, e a capa do renomado artista plástico Tunga.

Com o título inspirado na obra literária “Metamorfose”, de Franz Kafka, Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranqüilos é o quarto trabalho da carreira solo do cantor e percussionista Otto, ex-integrante da primeira formação do Nação Zumbi e do Mundo Livre S/A. [RELEASE]

MP3: Otto - Crua

MP3: Otto - Janaína

MP3: Otto - 6 Minutos

MP3: Otto e Céu - O Leite


Otto - Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranqüilos (2009)

1. Crua
2. O Leite [com Céu]
3. Janaína
4. Meu Mundo Dança [com Lirinha]
5. Seis Minutos
6. Lágrimas Negras [com Julieta Venegas]
7. Saudade [com Julieta Venegas]
8. Naquela Mesa
9. Filha
10. Agora Sim

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Das dores do mundo e da doce vingança de estar vivo e de novo
Por Xico Sá (Jornalista e Escritor)

- Você está ai?
A pergunta no escuro, na faixa “Meu Mundo Dança”, vem carregada de uma saudade difusa, de um desejo agoniado que gira no tic-tac dos ponteiros que se repetem até não se acertarem mais. Como a agulha no velho vinil tentando cavoucar as ranhuras para recuperar a beleza possível de uma trilha amorosa assanhada por um redemoinho.

Acordar transformado em barata, como se vê na Metamorfose do Kafka, livro do qual saiu o título deste disco, aqui ganha uma sensação ou sentido de “caiu a ficha”, epa!, peraí, ouve-se na radiola, na jukebox, uma canção melancólica com ecos e “samples” de promessas espatifadas.

Caiu a ficha e há um grito amplificado – “não se esqueça, dói” - da estranheza de estar no mundo e acordar de sonhos intranqüilos. Ao contrário do Gregor Samsa, o personagem kafkiano, o protagonista Otto não se entrega à inércia do quarto invernoso onde também nasceram flores. Quem disse que o amor não vai? (“Agora sim”). Sabe disso e masca o jiló da existência, esperneia, pinota, oferece mimos a Iemanjá (“Janaína”) e recicla – “quando eu perdi você ganhei a aposta”, como canta na música “O Leite”, na companhia da cantora Céu, lindíssima elegia para uma batida final de porta, a mais simples e dolorida sonoplastia do fim das coisas.

É preciso sim haver a tranqüilidade na clareira do caos, como recita Lirinha, do Cordel do Fogo Encantado, outro parceiro do CD, na faixa citada na cumeeira desse texto.

Acabou chorare, tá tudo lindo.
Nas cinzas de “6 minutos”, ecos de um aflito Ronnie Von das antigas com a “dor canalha” de Walter Franco pregada no mesmo céu da boca. Aí fia tudo pronto para uma seqüência perfeita de Jorge Mautner: “Tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento”.

Nestas ditas “Lágrimas Negras” e em “Saudade” – arranjo pontuado pela bela cafonice auto-irônica da canção popular movida a cuba libre – Otto interpreta com a cantora mexicana Julieta Venegas.

O trinado genial do disco, assumindo a nossa moral de sacanear com o próprio sofrimento e buscar a raparigagem desmedida, é obra do guitarrista Catatau (do grupo Cidadão Instigado), do baixo de Dengue e do baterista e co-produtor Pupilo, magos da Nação Zumbi que pisam o milho e peneiram o fino xerém da malícia.

Uma bela síntese da aurora pós-sonhos intranqüilos talvez esteja em “Filha”: “Aqui é festa, amor, e a (ou há?) tristeza em minha vida”.

Para tocar no cabaré, no botequim, na churrascaria, na laje, na barraca da praia ou na piscina com os amigos, tem que ser “Naquela mesa”, clássico de Sérgio Bittencourt que arrancou lágrimas paternas, maternas e filiais na voz de Nelson Gonçalves.

- Ei, você está ai?
Então escute um disco que junta o absurdo da vida do caixeiro-viajante da Metamorfose com as inquietações, bijuterias e esmeraldas de um galego mascate que corre o mundo com mercadoria de primeira. Quando a vida dói, drinque caubói, eis o mantra, a dose de delírio diário. Com direito a uma dancinha colada de safadeza, dizeres no ouvido, raparigagem e doce vingança de estar vivo para contar aventuras e desventuras dos próximos episódios que nos bolem por dentro.


Músico pernambucano destila mágoas sem perder a compostura
Por José Júlio do Espírito Santo (RSB)

Nem em meados de 1998, quando pernoitava no estúdio para conseguir gravar seu álbum de estreia com uma verba precária, Otto batalhou tanto para lançar um disco. Aqui, foi um longo trabalho de parto que levou mais de um ano. Mas o rebento nasceu forte. O quarto álbum de composições inéditas traz o artista pernambucano mais amadurecido. Separação é um tema tratado sem firulas em “Seis Minutos” e “O Leite”, em que Otto divide os vocais com a cantora Céu. Algumas das faixas apenas sugerem um viés românticopopular, com a guitarra de Fernando Catatau (o Cidadão Instigado) por vezes flertando com o brega e a latinidade. Otto também faz sua homenagem explícita ao cancioneiro popular – e implícita a Jacob do Bandolim – com a regravação de “Naquela Mesa”. Produzido por ele e Pupillo (baterista da Nação Zumbi e um dos 3namassa), o novo trabalho perpetua a tradição a sua maneira, colocando lado a lado percussão dos orixás e osciladores de frequência, sonhos intranquilos e leveza de levar a vida. “Meu Mundo Dança”, carregada de efeitos e com Lirinha, do Cordel do Fogo Encantado, dividindo os vocais, e “Agora Sim”, com um arranjo sensacional de cordas e metais junto a tambores incessantes, mostram onde este ótimo disco consegue chegar.


Brazilian, but With a Different Beat
By Larry Rohter (NYT)
Published: August 19, 2009

"No mundo da música brasileira Otto ocupa um lugar tão incomum quanto seu nome. Por mais de uma década ele tem sido visto como o cara que mistura eletrônica com tradicionais ritmos africanos que ele conheceu enquanto crescia numa cidadezinha do interior - uma espécie de Moby da roça" (...) "Transformação continua sendo a palavra-chave de Otto. Ele amadureceu, viajou e leu bastante. Foi exposto à novas influências e tornou sua rede mais ampla. Tanto que a música eletrônica agora é apenas um dos ingredientes de seu abrangente repertório." (...) "O CD começa e termina com uma arranjos densos e bem amarrados. Tem letras que fazem pensar, alguns solos de guitarra desconstruídos, saxofone pela primeira vez e vocais de Julieta Venegas, a estrela pop mexicana, em duas faixas"

Original text:

In the world of Brazilian music Otto occupies a place as unusual and unlikely as his name. For more than a decade he has been thought of as the guy who combines the textures of electronica with the traditional African-derived rhythms he first heard growing up in a small town in the interior — a kind of Moby from the backlands.

But as Otto prepares for the release of a new CD, his fourth, and the show he is scheduled to perform Friday night as part of Lincoln Center’s Out of Doors series, chill-out, drum ’n’ bass and lounge music seem to be far from his mind. Otto, known on his passport as Otto Maximiliano Pereira de Cordeiro Ferreira, hasn’t exactly renounced his recent past. Yet he makes it clear that he is now seeking a more organic sound.

“I started in electronica because it was easier, something you could do quickly and cheaply, and that made it the ideal path” for a solo artist just beginning his career, he said in an interview at a Manhattan hotel. “I mean, two-thirds of global electronica was already Brazilian music anyway, so I always felt I could decode that and transform it into something else.”

Transformation continues to be Otto’s watchword. But as he has matured and traveled and read and been exposed to new influences, he has responded by casting his net wider and wider, so that electronica is now only one of numerous ingredients in his wide-ranging music.

“To me Otto is the personification of synthesis, with an ability to swallow a thousand different things and create something new,” said Ricardo Pessanha, co-author of “The Brazilian Sound: Samba, Bossa Nova and the Popular Music of Brazil” (Temple University Press, 2009). “He’s not a great singer and is never going to be a huge commercial success, because his commitment is not to what is popular or what sells. He’s the hillbilly who clears pathways and unlocks closed doors, chopping his way through the jungle and opening frontiers so that others can follow.”

That eclecticism began with Otto’s own background and upbringing. Born in 1968, he recalls hearing fife-and-drum bands on the street as a child, remembers the rhythms he tried to pound out as he listened to his parents’ records of samba and Brazilian country music, and marvels at how he was energized by punk and its “do it yourself” credo.

“I’m completely a mixture, of nationalities and ethnicities,” he said. “I’m Dutch and Portuguese combined with Indian and mulatto, precisely the blend that made my country the incredible, inventive place it is.”

At the age of 21, though, Otto headed for Paris, trying to woo a girlfriend. He was a busker there for a time but learned French and ended up playing percussion in the band of Raul de Souza, the Brazilian trombonist probably best known in the United States for his work with Sonny Rollins, Cal Tjader and George Duke.

Returning to his home state of Pernambuco in northeast Brazil, Otto quickly became a part of the mangue bit movement, which fused home-grown rhythms like the maracatu, frevo and ciranda with the latest in imported computer and studio technology. He played percussion in both Nação Zumbi and Mundo Livre S/A, the movement’s two most important bands, before releasing “Samba Pra Burro,” his first solo disc, in 1998. “Samba Pra Burro” was voted record of the year in many Brazilian polls, and also became an international hit, with several tracks being praised by bands like Oasis and emerging as favorites on the dance floor and fashion runways.

“Bob,” a moody, ambient piece with hints of bossa nova and a Nação Zumbi sample, written and performed by Otto and Bebel Gilberto in two versions that open and close the CD, drew the most attention and seemed to be the blueprint for a whole new approach to Brazilian pop.

Two more CDs, whose titles Otto has tattooed on his arms, the groove-heavy “Condom Black” and the more pop-oriented “Sem Gravidade,” followed quickly, and found Otto expanding his palette: to rap on “Cuba,” rock on “Pelo Engarrafamento” and romantic pop balladry on “Por Que.” Together the discs comprise what he calls “a real trilogy, a phase or cycle, one that had a beginning and an end and had to give way to a new sonority with more melody.”

In person, trying to explain his music and life, Otto is restless, with energy to burn. Curly-haired, burly and amiable, he fidgets and squirms as he talks, and his thoughts shift rapidly from one subject to another, an exercise in free association that helps explain both the fecundity of his imagination and the critical success he has enjoyed.

“Otto is the artist who never stops, like Tom Zé or my father,” Ms. Gilberto, a close friend, said, referring to one of the leaders of the Tropicalist movement and João Gilberto, a pioneer of the bossa nova, both of them northeasterners who have influenced Otto. “He’s always creating, thinking, inventing, with ideas gushing out of him continuously. Whether he’s playing an instrument or not, he’s always revving at high speed.”

Though it has been five years since the release of Otto’s last CD, he has hardly been idle. He has become a good friend, for example, of the Turkish-Swedish saxophonist Ilhan Ersahin, leader of the New York trip-hop collective Wax Poetic, whose past collaborators include Norah Jones.

Otto toured for a while as one of two singers in Wax Poetic, performing alongside a Turkish female vocalist, and has also written songs with Mr. Ersahin and spent time with him in Istanbul.

“Otto is all about making world music in the real sense,” Mr. Ersahin said, “not just putting an ethnic flute over a track, but taking all the elements and internalizing them and creating a new sound. In order to do that, you have to live with it for a while, meet people and play with drummers from different places, musicians who have been around the block, and that’s what Otto has been dedicating himself to.”

Recently Otto has also been spending time in New York, hanging out at the Nublu club in the East Village. There, he said, he has been stimulated by his exposure to American musicians with roots in avant-garde jazz, like the composer and conductor Butch Morris and the drummer Kenny Wollesen.

Otto’s new CD, which is to be released by Nublu in the United States on Sept. 1 and shortly thereafter in Brazil, reflects all those changes. It is called “Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranqüilos,” or “One Morning I Awoke From Uneasy Dreams,” which happens to be a paraphrase of the opening sentence of the Franz Kafka novella “Metamorphosis.”

The CD begins and ends with densely orchestrated string arrangements, perhaps an indication of Mr. Morris’s influence. It also features reflective lyrics, some crunchy rock-style guitar solos, saxophone for the first time and vocals from Julieta Venegas, the Mexican pop singer, on two tracks.

“This record is about having choices and following the path you think is cool,” Otto said. “I’m 41 now and this is surely my most mature work, with a melancholy that mirrors my view of the state of the world. But my music remains receptive to all things. If there’s one lesson I’ve learned, it’s that music is obliged to be open.”

Otto will perform at Lincoln Center’s Out of Doors series on Friday at Damrosch Park Bandshell, 62nd Street and Columbus Avenue, lincolncenter.org.


MySpace: www.myspace.com/ottobrasil


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Um comentário:

Yasmin Muller disse...

O melhor disco do ano.