Adriana Maciel

O Essencial. É isso que Adriana Maciel busca – e consegue – passar aos seus ouvintes em seu último trabalho Dez Canções. O Essencial, porém, não se traduz em um disco simples ou ligeiro. O essencial deste trabalho é traduzido justamente pelo rigor do despojamento e pela extrema intimidade entre o canto de Adriana e as melodias e letras de cada canção escolhida. A produção das faixas, a cargo de Chico Neves e Bernardo Bosísio, nos mostra que por trás da simplicidade dos seus arranjos, cada instrumento escolhido ou nota executada, compõe em conjunto uma paisagem sonora específica para sua interpretação. Nessas paisagens, a voz segura de Adriana ilumina suas nuances e desenha seus contornos e horizontes.

Com um repertório cuidadosamente selecionado e executado, Adriana propõe ao ouvinte uma cumplicidade entre suas interpretações intimistas, concisas, diretas e uma audição atenta às sutilezas de um disco que conta com a participação de alguns dos melhores músicos brasileiros em atividade. As dez canções trazem o talento de músicos do porte de Marcos Suzano, Cristina Braga, Celso Fonseca, Alberto Continentino, Marcelo Costa, Sacha Amback, Christian Oyens, Lui Coimbra e seu parceiro de produção, Bernardo Bosísio. Essas participações estão espalhadas em uma variedade de instrumentos como violões, pianos, percussões, harpas, charangos, pratos, violas havaianas (weissenborn), melotrons e até mesmo cristais (tocados pelo brasiliense Fernando Corbal). Mas não se engane: esse aparente excesso de sonoridades é devidamente arranjado para que cada músico participe de forma precisa da intenção de Adriana: atingir em cheio com seu canto o ouvinte, o conduzindo através de uma série de caminhos sonoros sutis.

Dez Canções também deve ser visto como um disco cujo resultado é fruto de uma escolha clara por parte de Adriana: sua afinidade com os compositores de sua geração, em especial com alguns que já a acompanha ao longo de sua carreira, como Vitor Ramil (sozinho ou em parceria com Luciano Mello) e Celso Fonseca. Além deles, o repertório completo traz David Bowe, Moreno Veloso, Cris Braunn com George Israel e ela mesma (em parceira com Billy Brandão) e demonstra essa opção de dialogar com novos autores. A única exceção é “Copo vazio”, de Gilberto Gil. À primeira vista, sua presença pode destoar do corte contemporâneo na escolha do repertório. Mas quando a ouvimos ao lado das demais canções, percebemos que ela se casa perfeitamente com o caminho desenhado pelo canto de Adriana em cada faixa.

E se a canção de Gil nos lembra que o vazio está sempre cheio de ar, Adriana Maciel segue à risca esse mote, oferecendo ao público um disco em que o silêncio espreita o seu canto, em que os espaços deixados pelos arranjos são preenchidos por um certo vazio. Vazio necessário, que permite a música e aos seus intérpretes respirarem de forma pausada, porém vigorosa, cada melodia. Em Dez Canções Adriana nos conduz com delicadeza nesse processo em que menos é mais, em que cada detalhe revelado pela audição das faixas nos remete a uma reflexão sobre suas interpretações despojadas, claras, econômicas. Enfim, dez interpretações essenciais.

(por Frederico Coelho)

MP3: Adriana Maciel - Cão (Like a Dog)

MP3: Adriana Maciel - Vida em Marte (Life on Mars)


Adriana Maciel é uma cantora de hoje. Apesar de estarmos aqui falando de seu quarto disco de carreira. Eu posso explicar os motivos.

Adriana sabe das atuais agruras do mercado de musica mundial. Trabalha sem pressa por saber que a era dos grandes estouros de venda e a repercussão em grande escala já dançaram há muito tempo.

Adriana sabe também dos inúmeros formatos disponíveis de download nas redes informatizadas e não tem medo, sendo a distribuição de uma grande gravadora apenas mais um veiculo de divulgação de seu trabalho.

Adriana fez um disco planejado no melhor sentido. Você poderá colocá-lo no Ipod em shuffle sem o medo da dispersão que nos causa ao ouvirmos faixas aleatórias de um álbum. Todas indicarão o mesmo caminho escolhido por ela: o silêncio de poucos instrumentos para manter o essencial: as canções e suas letras. Um trabalho pessoal e intransferível.

Fazer concessões para quem e por quê?

Adriana é delicada e doce. Eu posso explicar os motivos de minha definição.

Quando mandei um email insistindo para ser um dos primeiros a receber este seu novo disco, fui surpreendido três dias depois com um envelope embaixo da minha porta. Sobre o conteúdo da encomenda eu já chego lá. Antes quero falar que a delicadeza que citei acima se instaura também logo na primeira faixa para só largar a nós, os ouvintes, no último acorde. Dona de um registro vocal suave e quase frágil, ela transforma a velha dor e a surrada alegria em tempos modernos.

Agora sim. Vamos ao disco em palavras que, tomara, transforme-se logo em som nos seus ouvidos.

1. "Cão (Like a Dog)"
Vitor Ramil é um compositor que traz em suas composições imagens fortes e metafóricas. Sua obra encontra em Adriana uma outra face: a da delicadeza. Essa música de Vitor Ramil me traiu. Surpresas que o encontro de suas canções com o canto de Adriana revelam. Em alguns momentos a letra lembra a ironia e o humor de outro compositor preferido dela: Zeca Baleiro. Letra gaiata e deliciosa:
“Its been a hard days night / Eu dormi como um cão / Tava vendo um filme / Apaguei no chão”

2. "Vida em Marte (Life on Mars)"
Seu Jorge é um cidadão do mundo. Aqui dentro um herdeiro do legado musical de Jorge Ben e seu samba-rock. Lá fora um ator moderno que cometeu uma ousadia aprovada por todos: verter algumas canções de David Bowie para a trilha de um filme que participou. Foi esse que me conquistou. Pelo inusitado da idéia e pelo resultado que essas versões causaram em mim. Agora sou surpreendido pela regravação definitiva de Adriana para versão dele para “Life on Mars”. Bowie morrerá de orgulho, estou certo.
“Tantas coisas o coração não consegue comprender / Porque a mente não faz questão / Nem tem forças pra obedecer”

3. "Perto do Teu Coração Selvagem"
Coração selvagem. Que imagem poética forte e linda. A primeira vez que ouvi essa expressão foi num belo e intenso livro de Clarice Lispector que eu ainda menino tentava em vão entender. Nos anos 70 o compositor Belchior trouxe a expressão de volta em uma de suas canções mais famosas. Agora Vitor Ramil retoma a idéia nesta inédita bela balada gravada aqui por Adriana:
“Perto do teu coração selvagem / Eu caio ao cair da tarde / Trazendo a alma em febre de noite alta”

4. "Ficar"
Celso Fonseca foi/é parceiro quase eterno de Ronaldo Bastos. Juntos reinventaram a bossa nova com muita personalidade. Para quem como eu conhece Celso Fonseca também por outros caminhos, sendo um dos produtores mais queridos pelas cantoras e por conseqüência disso também muito amado por mim, não é surpresa essa deliciosa balada registrada por Adriana no disco:
“Se vai ficar não faça nada / Deixa a luz levar o dia / Deixa o dia anoitecer”

5. "Cadê Você"
Desde seu segundo álbum que Adriana me surpreende ao cantar canções que eu não nomearia como sendo de Vitor, são baladas de amor de letras quase ingênuas como esta que está aqui:
“Cadê você que a vida inteira desesperou de me encontrar / Cadê você que vive dentro de algo que não sei alcançar”

6. "Tardes Vazias"
Cris Braun é uma grande compositora do amor. Suas letras e canções são sempre devoradas por mim. George Israel, para quem não conhece, é aquele braço direito que junto ao esquerdo de Paula Toller fizeram o Kid Abelha chegar onde chegou. Do encontro de Cris e George nasceu essas “Tardes Vazias”:
“Talvez sonhe outros sonhos não os meus / E pensei que não sonhavas nem os sonhos teus”

7. "Sertão"
Moreno Veloso ao contrário de seu pai Caetano não se preocupa com os excessos: mídias e composições. Avesso a tudo que seja super exposição, ainda tem uma obra pequena mas de forte impacto. Esta canção “Sertão” foi gravada por Gal Costa e pelo próprio autor anos atrás, mesmo assim ficou para poucos. Tomara Adriana seja agora a perfeita porta-voz para muitos.
“A luz / A paz da voz / A voz em mim / É o amor que conduz / E traz aqui / E diz sim / Em nós / E não tem fim”

8. "Copo Vazio"
Gil compôs essa canção em tempos difíceis de ditadura para Chico Buarque que nesse período estava praticamente impedido de exercer seu ofício de compositor e com sua obra praticamente toda mutilada pela censura. Resolve então fazer um disco homenageando e interpretando outros compositores brasileiros. Esta era uma delas. Adriana com sua nova leitura, leva a filosofia da letra para outros caminhos mais leves e poéticos.
“É sempre bom lembrar / Que um copo vazio está cheio de ar / Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho / Que o vinho busca ocupar o lugar da dor”

9. "O Mundo ao Redor"
Será esta a primeira composição feita por Adriana? Respostas na minha caixa postal, por favor. Sendo primeira ou não, é adorável . Uma valsa moderna feita em parceria com Billy Brandão:
“As ruas que correm te levam daqui / O tempo se aquieta / Parece dormir / Um beijo lento / Um susto brando / Um acalanto me deixa seguir”

10. "Fórmica Blue"
A canção mais improvável e instigante do disco. Toda a vertigem e estranheza das canções de Vitor Ramil atingem aqui o seu ápice. Luciano Mello é seu parceiro. Liberte sua imaginação e embarque nessa valsa surrealista e poética que nos remete aos poetas beatniks e o universo de Tom Waits.
“Foi / Fica um gole de mim / No café que restou / Sobre a mesa sem fim da manhã / Fórmica blue / Céu das bolinhas de pão / Onde o meu coração desandou a bater / E onde a minha ilusão se desfez / Fórmica blue / Eu nunca vou te esquecer”

(por Zé Pedro)

MP3: Adriana Maciel - Cão (Like a Dog)

MP3: Adriana Maciel - Vida em Marte (Life on Mars)

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