André Abujamra - 5 Canções

Pés no chão, cabeça na Lua
(por Max Eluard do site Gafieiras)

Em 1965, na cidade de São Paulo, nasceu André Cibelli Abujamra, filho do diretor, ator e ex-juvenil do Internacional de Porto Alegre, Antonio Abujamra.

O candomblé é sua religião e o orixá que lhe guia é Obaluauê. É de Obaluauê o legado da inquietação. No zodíaco é Touro com Gêmeos, pés no chão e cabeça na Lua. Uma possível combinação astral que faz André Abujamra se auto-definir como um multiprofissional: músico, ator, produtor e diretor.

Sua carreira começou em 1985 na dupla Os Mulheres Negras, formada com Mauricio Pereira. Eles se conheceram um ano antes durante um curso de percussão. Segundo André, o nome Os Mulheres Negras surgiu de um folheto de um espetáculo teatral. "Eu vi um impresso com o nome de uma peça de teatro: 'Quando as mulheres negras tentaram suicídio, quando a primavera não era suficiente' e achei bacana. Como o nome era grande, resolvemos colocar apenas Mulheres Negras”. N’Os Mulheres André cantava, tocava guitarra, teclados e era responsável pela parafernália eletrônica (samplers, pedais, sintetizadores e bateria eletrônica) utilizada pela dupla. O som era marcado pela mistura de gêneros e pelo humor.

A dupla paulistana lançou seu primeiro disco, Música e ciência, em 1988, pela WEA. A música “Sub”, versão do clássico “Yellow submarine”, dos Beatles, tocou nas rádios e fez um relativo sucesso, cumprindo com as expectativas da gravadora. Nessa época André começou a fazer trilhas para o teatro e televisão, como para o programa infantil Rá-Tim-Bum, da TV Cultura. Mas foi a dupla que assinou a pouco conhecida trilha sonora da inquietante minissérie Sampa, escrita por Gianfrancesco Guarnieri e estrelada por Cássio Gabus Mendes e Paulo José.

Dois anos e muitos shows depois, Os Mulheres Negras lançaram o segundo disco, Música serve para isso, também pela WEA. Ano em que André participou do documentário, Rota ABC, de Francisco César Filho.

No ano seguinte, 1991, Os Mulheres encerraram as atividades. No mesmo ano, André partiu numa viagem pelo mundo.

Em 1992, fundou o Karnak, nome retirado de um templo localizado em Luxor (Egito), onde visitou. Enquanto Os Mulheres Negras tiravam proveito de sua reduzida formação (apenas Mauricio e André), o Karnak chamou logo a atenção pelo seu extenso quadro: Eduardo Cabello na guitarra, Lulu Camargo nos teclados, órgão e melotron, Serginho Bartolo no baixo africano, Kuki Stolarski na bateria, Carneiro Sândalo, também na bateria, James Muller na percussão, Marcos Bowie no trompete, backing vocal e naipes de sax, Luiz Macedo na guitarra, violões africanos, arranjos e regências de metais africanos, Hugo Hori no saxofone e o próprio André no vocal, samples, guitarra e tambores africanos, além do cachorro Jeton, que acompanhava a banda nos shows.

O Karnak tinha como premissa misturar sons e ritmos de várias regiões do mundo. Mas essa mistura nunca partiu de uma pesquisa ou de um conhecimento formal desses ritmos e sons por parte da banda. André costuma afirmar que tudo o que o Karnak fez foi seguir a intuição e sempre com sotaque universal do pop.

Ainda em 1992, André atuou como ator no curta de Anna Muylaert, As rosas não calam. Colaborou também com locução na animação Squich!, de Flávio del Carlo. No ano seguinte, continuou os shows com o Karnak e atuou em alguns curtas, como Atrás das grades, de Paolo Gregori (em que também assinou a trilha); Derrube Jack, de Ricardo Elias; e Jô, de Beto Brant e Ralph Strelow. Além de participar do documentário A era JK, de Francisco César Filho, e de assinar música adicional do longa Capitalismo selvagem, de André Klotzel. Em 1994, a mesma coisa, shows com o Karnak e participações nos curtas Expresso, de Michael Ruman; Lumpet, de Ricardo Elias; Instruções para dar corda no relógio, de Eliane Coster; e Pé de Pato de Alain Fresnot.

Aos 30 anos de idade, em 1995, a atual polifonia profissional de André configurou-se. Foi nesse ano que o Karnak lançou seu primeiro CD, que levava o nome da banda. O disco saiu pelo selo Tinitus, da PolyGram, e contou com as participacões de artistas como Tom Zé, Antônio Abujamra, Cecília Bernardes e Marisa Orth. Ainda em 1995, Chico César regravou "Alma não tem cor" em seu primeiro disco Chico César aos vivos. E o álbum e estréia do Karnak estende o tapete vermelho para os prêmios de melhor grupo (Associação Paulista dos Críticos de Artes) e clipe de ouro (Video Music Brasil, MTV).

Como ator, ainda em 95, fez seu primeiro papel relevante no cinema, no filme Sábado, de Ugo Giorgetti. Ao lado de Tom Zé representou um funcionário do IML encarregado de recolher os cadáveres de indigentes. Toda trama do filme se desenrolou em torno de um elevador enguiçado e de um comercial sendo rodado no mesmo prédio antigo. No elevador estão presos uma produtora da agência que roda o comercial, interpretada por Maria Padilha e os funcionários do IML, Tom Zé e André Abujamra, além do defunto (o dramaturgo e cenógrafo Gianni Ratto). Mesmo tendo essa participação de destaque no longa de Giorgetti, André não deixou de atuar em curtas: Útero, de Christiano Metri; A origem dos bebês segundo Kiki Cavalcanti, de Anna Muylaert; e Onde São Paulo acaba, de Andréa Seligmann. Sua participação na trilha sonora do longa de Carla Camurati, Carlota Joaquina – A Princesa do Brazil (1995), foi decisiva para firmar André como trilheiro de mão cheia.

Em 1996, André produziu o disco Tem mas acabou, do Pato Fu, além de ter participado das faixas “Nuvens”, “Feliz ano velho” e “Pinga”. Nesta última, assinou a parceria com John, guitarrista do combo mineiro.

Sucesso fora do Brasil, o Karnak lançou seu segundo disco em 1997, Universo Umbigo, dessa vez pelo selo Velas. O disco reuniu Antonio Abujamra, Theo Werneck, Moska, Pato Fu, Mestre Ambrósio e Mônica Salmaso. Nesse ano, o grupo ganhou o prêmio JT e Secretaria Municipal de Cultura, ficando entre os 10 discos mais importantes do pop brasileiro desde o Tropicalismo. Em 1997 também participou da trilha do primeiro longa do diretor Beto Brant, Os matadores.

No ano seguinte o Karnak caiu na estrada e André turbinou sua carreira de trilheiro com o longa Ação entre amigos, de Beto Brant, e no documentário Nós que aqui estamos por vós esperamos, de Marcelo Masagão. Como ator fez uma pequena mas hilariante participação no longa Boleiros, de Ugo Giorgetti. André interpreta um pai-de-santo chamado Vavá. Em 1998, com o Karnak, conquistou o Prêmio Sharp na categoria melhor banda.

Mais duas trilhas importantes entraram para o seu currículo em 1999. Uma delas é do filme Castelo Rá-Tim-Bum, de Cao Hamburger, baseado na série infantil da TV Cultura de São Paulo. André já havia participado da trilha do programa televisivo no início dos anos 1990. Também trabalhou na trilha de Um copo de cólera, longa de Aluisio Abranches, baseado no romance homônimo de Raduan Nassar. No mesmo ano ganhou seu primeiro prêmio como diretor, que divide com Guilherme Ramalho, no VMB, pelo clipe de “Universo Umbigo”, faixa-título do segundo álbum do Karnak.

Em 2000, o Karnak quase se mudou do Brasil. Muitos shows pelo Japão e EUA tiraram a banda da cena nacional.

Em 2001, assinou as trilhas dos filmes Nem gravata, nem honra, de Marcelo Masagão; O tempo dos objetos, de Bruno Carneiro; Domésticas, de Fernando Meirelles; além de compor temas instrumentais para O bicho de 7 cabeças, de Laís Bodanski. E o Karnak lançou seu terceiro disco, Estamos adorando Tóquio (Net Records), uma brincadeira com o sucesso no exterior, com participações de figuras como Jorge Mautner, Mauricio Pereira, Mário Manga, Moska, Simone Soul e Zeca Baleiro.

Em 2002, criou o tema de abertura do programa de TV Saia justa e seu trabalho como trilheiro rende As três Marias, de Aluisio Abranches, e Durval Discos, primeiro longa de Anna Muylaert, no qual também faz participação como ator, interpretando seu alter ego Fat Marley. No final do mesmo ano, o tal Fat Marley lançou seu disco de estréia, New old world/Future sun (Outros Discos). O release do CD mostrou mais uma vez que a seriedade do músico Abujamra é tão grande quanto seu humor nonsense: “O DJ, multinstrumentista, físico amador e auto-proclamado ‘partícula anti-musical’ Fat Marley é um mistério. Veio a São Paulo apenas uma vez, para uma breve aparição em um concerto lotado na Casa das Rosas, teve tempo apenas de entregar seu primeiro CD nas mãos da Outros Discos e desapareceu sem deixar rastros. O CD está exatamente no meio do caminho entre a música búlgara de casamento e o drum’n’bass”.

Ainda em 2002, o filho de Obaluauê pegou os fãs do Karnak de surpresa. Depois de uma bem sucedida turnê nos EUA, Abujamra anunciou o fim do grupo, que foi “comemorado” com dois shows em São Paulo.

Em 2003, André realizou seu mais difícil trabalho de trilheiro, ao compor para o filme Carandiru, de Hector Babenco. No mesmo ano participou em São Paulo do show 100 anos de Pixinguinha, ao lado de Dante Ozzetti, Mario Manga, Itamar Assumpcão e Arrigo Barnabé, e ainda assinou as trilhas de O caminho das nuvens, de Vicente Amorim, De passagem, de Ricardo Elias, e música adicional para o primeiro filme de ficção de Marcelo Masagão, 1,99 – Um supermercado que vende palavras. Em junho de 2003 fez, no Villaggio Café (SP), o primeiro show de seu primeiro trabalho solo pós-Karnak. Pouco mais de um ano lançou O infinito de pé (Spin Music).

5 Canções em MP3:
1. O Infinito de Pé
2. O Dah Ho
3. Tempo
4. Palmeria do Deserto
5. Elevador
[ baixe/downloaded: jamwave ]


Texto: Gafieiras


Sites: myspace / jamwave / sellaband


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5 comentários:

Leonardo Barichello disse...

Muito bom o texto, adorei!
Tente incorporar na Wikipedia do André Abujamra.

Adorei o blog como um todo e, se estiver disposto e gostar do meu blog (http://billyshearsrecomenda.blogspot.com), gostaria de trocar link com vc!

valeu

Leonardo Barichello disse...

Já está linkado lá no meu blog ;)

Valeu!

Unknown disse...

Vocês saberiam o título da música de abertura do programa
'Provocações' da TV Cultura e em que disco haveria sido gravada?

Anônimo disse...

PC, faz tempo que não vejo o programa, e não lembro da música de abertura, mas foi uma ótima lembrança, vou tentar assistir essa semana. E então, te digo.

Abraço!

Unknown disse...

Valeu, Heber. Eu só sei que, no final do programa, enquanto toca o tal som (tipo mach-up), nos créditos aparece o nome do André Abuja.

Aquel'e-abraço, pc