Ficou cada um por si: o vocalista Humberto Effe gravou um álbum solo pela Virgin, em 1995, antes de mergulhar no trabalho de compositor para Cris Braun, Toni Platão, Frejat, e Skank, e de colaborar com Dado Villa-Lobos na trilha do longa Buffo & Spalanzani.
O guitarrista Gustavo Corsi virou " giggeiro ", músico contratado para acompanhar Ivo Meirelles, Dulce Quental, Marina Lima, Gabriel O Pensador, Kátia B e Cláudio Zoli. Quando sentiu saudades de trabalhar em banda, formou a dançável Rio Sound Machine. O baixista Romanholi deu as costas à musica e dedicou-se integralmente ao jornalismo. O baterista Abílio Rodrigues abriu uma loja de instrumentos, formou-se professor em Filosofia e tratou de estudar música. E, no entanto, ficava sempre faltando um pedaço.
"Foi uma grande pena a banda ter acabado", recorda Abílio. "Tinha um potencial enorme ainda não realizado". " Supercarioca era uma bela carta de intenções", define Gustavo, referindo-se ao segundo e último álbum da banda, "que precisava de mais trato". Coube a Abílio pegar o telefone e reconvocar a banda, em 2001. Ele e Romanholli haviam se re-encontrado por conta do "Diamante Cor de Rosa", projeto do baixista focado no repertório de Roberto Carlos. Mas retomar os Picassos Falsos tornou-se a prioridade. "Fiquei um pouco cético", lembra Humberto. "Após tanto tempo sem estar (todo mundo) junto, não sabia no que ia dar. Demorou alguns meses de laboratório para a gente se re-encontrar".
Se a reunião dos Picassos Falsos coincidiu com a reforma de outras bandas dos anos 80, houve o compromisso de se distanciar ao máximo de qualquer manifestação de saudosismo. "Não queria ser mais um com nada de novo a fazer, a dizer", explica Humberto. "A gente voltou depois do " revival" dos anos 80", arremata Romanholli. "O nosso objetivo era retomar a banda do Supercarioca em diante. Nada a ver ficar fazendo" Remix 2001"de "Quadrinhos", um dos primeiros sucessos da banda.
Dito e feito. Novo Mundo, longe de ser um exercício nostálgico, retoma a conversa musical interrompida em 1988 da forma mais coerente e orgânica possível. É uma progressão natural a partir de Supercarioca : no caldeirão se misturam samba ("Rua do Desequilíbrio", "Pra Deixar de Ficar Só"), baião movido a guitarra ("Presidente Vargas"), samba-jazz ("Zig-Zag 2"), pop ("Até Onde For Seguir") , rock ("Eletricidade") e balada (a faixa-título). O intervalo de quase duas décadas afiou a capacidade dos integrantes. "Antes éramos mais peladeiros", admite Romanholli, "mas amadurecemos musicalmente. Todos estão tocando melhor, e o Humberto está compondo melhor".
De fato, Novo Mundo representa um salto quântico em termos da segurança e a autoridade com que a banda retoma seu justo e devido lugar na cena musical brasileira. Com a vantagem de agora todos os integrantes trazerem uma bagagem adicional de 15 anos de experiência.
Assim como sem Gilberto Gil, Mutantes, Novos Baianos e Paralamas do Sucesso os Picassos Falsos não teriam existido, sem os Picassos Falsos talvez o Brasil não tivesse tido Chico Science e Nação Zumbi, Los Hermanos, Pedro Luís e A Parede (e a lista continua). Os Picassos Falsos são síntese. São os arquitetos de um admirável Novo Mundo onde co-habitam Hendrix e Ismael Silva, sertão e Led Zeppelin, Prince e repente, forró e funk, samba e rock and roll.
Que falta faziam. Bem-vindos de volta.
(José Emilio Rondeau, Rio de Janeiro, Maio de 2004)
Novo Mundo (2004)
1. Você não consegue entender
2. Porta-Bandeira
3. Avenida
4. Presidente Vargas
5. Rua do desequilíbrio
6. Zig-zag 2
7. O filme
8. Novo mundo
9. Até onde eu for seguir
10. Pra deixar de ficar só
11. Me diga seu nome
12. Eletricidade
[ Download do álbum completo via Badongo ]
Site: PicassosFalsos.com.br
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