Cordel do Fogo Encantado - Transfiguração

Cordel passa por transformação em terceiro CD
(Adriana Ferreira Silva, 15/9/2006, Folha Online)

A voz messiânica recitando uma poesia popular logo na primeira faixa não deixa dúvidas, este é um disco do Cordel do Fogo Encantado. Mas, ainda que a abertura prenuncie a característica mais marcante do grupo pernambucano - já meio repisada em apresentações ao vivo -, eles estão diferentes.
Como anuncia o título do novo e terceiro álbum da banda, "Transfiguração", o Cordel mudou. Ou está mudando. Está menos teatral, mais musical e elaborado. Explorando outras possibilidades sonoras, marcadas por instrumentos de corda e também pela velha e boa percussão.
Nascido como grupo de teatro em Arcoverde, cidade no interior de Pernambuco, e levado ao estúdio pelas mãos do percussionista Naná Vasconcelos, produtor de seu primeiro CD, em 2000, o Cordel é um fenômeno do boca-a-boca. Sem nunca ter emplacado hit no rádio ou na televisão, consolidou uma promissora carreira graças às turnês, que rodaram todo o Brasil, conquistando milhares de fãs, especialmente jovens, atraídos pelo transe de seu vocalista, Lirinha.
A principal mudança na rota da banda ocorre exatamente aí. Se os dois primeiros CDs eram registros de espetáculos teatrais, este faz o caminho contrário. "Antes, as músicas eram compostas de acordo com a concepção cênica. Os arranjos, elaborados na experimentação ao vivo. Na composição, levávamos em conta os fatores cênicos, a reação do público e tal", explica Lirinha, 29.
"Transfiguração" nasce primeiro como álbum, diz ele. "A gente decidiu que esse terceiro disco seria um mergulho no ambiente musical, quase inédito na banda. Um aprofundamento em estúdio." Esse novo "conceito" se reflete na escolha dos produtores, o experiente Carlos Eduardo Miranda e Gustavo Lenda, e na mixagem feita pelo americano Scotty Hard, mesmo do De La Soul.
Ao contrário da crueza melancólica do CD anterior, "O Circo do Palhaço Sem Futuro", neste, o mergulho na cena musical resultou em composições harmoniosas, como "Aqui (ou Memórias do Cárcere)", "Sobre as Folhas (ou o Barão nas Árvores)", e na singela "Preta".
A percussão continua sendo a base de todas as canções, mas, diz Lirinha, a banda tentou extrair dela uma sonoridade distinta, "que não fosse considerada arcaica e tradicionalista", como a imagem que esse instrumento carrega, segundo ele.
"É a busca por um som que pudesse fazer parte da memória musical da população, principalmente de nossa geração, sem necessariamente trazer imagens do passado, de algo tribal", afirma. As referências à poesia de cordel e à literatura, outra marca registrada, continuam intocadas. Mas também elas prenunciam sinais de transformação, como em "Canto dos Emigrantes", poema do pernambucano Alberto da Cunha Melo, que Lirinha recita sobre uma base jazzística, marcada por efeitos eletrônicos feitos por Buguinha Dub.
Se ainda não é uma obra-prima, "Transfiguração" prenuncia um Cordel mais maduro, o que é um ótimo sinal.

1. Tlank
2. Aqui (ou Memórias do Cárcere)
3. O Sinal Ficou Verde (ou Além do Bem e do Mal)
4. Sobre as Folhas (ou O Barão Nas Árvores)
5. Preta
6. Pedra e Bala (ou Os Sertões) com B-Negão
7. Louco de Deus (Perto de Você)
8. Ela Disse Assim (A Teus Pés)
9. Transfiguração
10. O Lamento das Águas Sagradas
11. Joana do Arco (Agitprop)
12. Canto dos Emigrantes
13. Morte e Vida Stanley
14. Na Estrada (Quando Encontrei Dean Pela Primeira Vez)
15. Acampamento

Site: CordeldoFogoEncantado.com.br
Info: Outras informações e os melhores preços deste e outros álbuns do Cordel do Fogo Encantado.

4 comentários:

Anônimo disse...

Olá, tudo bom?
Esse blog é bacana demais pra ficar fora do agregador de blogs elbo (www.elbo.ws). Dá uma olhadinha e participe para que mais pessoas conheçam o música social. A mensagem tá com cara de spam, mas não é, juro pra vc!

Um grande abraço e muito obrigado pelas dicas...

Anônimo disse...

Faltou "Preta", fiquei interessado pela propaganda...
É o próprio blogger que faz as críticas?

Heber disse...

Apoie a música independente, compre os originais!

A maioria das "críticas" sou eu mesmo que faço, as excessões são sempre creditadas, como nesse caso, foi a Adriana Ferreira Silva da Folha Online quem fez.

Abração!

Anônimo disse...

Perfeito!
Como tem coisa boa rolando por aí, e esse material fica fora de alcance por falta de conhecimento.
Ótimo meio, ótima iniciativa.

Abraços