Morrissey - Ringleader of the Tormentors

OBRIGADO, MORRISSEY!
(Texto de André Barcinsky)

Não sei exatamente onde, mas lembro de ter lido uma entrevista de Paul Westerberg, ex-líder do Replacaments, em que ele conta que ficou tão obcecado pela música "Academy Fight Song", do Mission of Burma, que não conseguiu ouvir mais nada por semanas.

A mesma coisa aconteceu comigo. E o culpado foi o novo disco de Morrissey, "Ringleader of the Tormentors", mais especificamente a faixa de abertura, "I Will See You in Far Off Places". Já baixei o disco há três semanas, ouvi o CD dezenas de vezes, mas continuo voltando, como uma doença, a essa música. Se eu estivesse começando uma banda de rock, usaria essa faixa como bússola, como um norte. A meta seria compor uma canção tão completa quanto esta.

Se você ainda não ouviu "I Will See You in Far Off Places", aí vai uma breve descrição: ela começa com uma percussão meio eletrônica e um som de teclado que lembra música árabe. Depois, entra uma guitarra pesada, típica do Killing Joke, o que dá à faixa um tom gótico/épico.
Aí entra Morrissey: "Ninguém sabe o que é a vida humana / Por que viemos / Por que vamos / Então porque é que eu sei / Que vou te encontrar / Em lugares distantes?"

Os primeiros 30 segundos são tão emocionantes, tão fortes, que você se sente, como poucas vezes na vida, diante de música realmente significativa. Morrissey chega com o pé na porta, tipo xerife mesmo: "Eu sou Morrissey, e tenho algo a dizer!". É uma entrada e tanto. E é preciso muita genialidade para nos tirar desse estupor cínico, causado por tanta música ruim que nos desce goela abaixo. De vez em quando, alguém precisa nos sacudir e lembrar por que é que gostamos de música em primeiro lugar.

Voltando à faixa: o que choca não é tanto o que Morrissey diz, mas como ele diz. A entonação, a separação de sílabas, a maneira como ele estica certas vocais para realçar um significado. É o que separa cantores de intérpretes.

Como toda grande arte, essa música pode significar muitas coisas. Para mim, ela tem um viés místico-romântico intoxicante. Me parece diferente do que ele fazia nos Smiths, bem distante daquelas letras mais realistas e irônicas, radiografias de uma juventude sensível demais para viver na era de Margareth Thatcher. O Morrissey puramente descritivo dos anos 80 era divertido, mas este, versão 2006, parece mais vivido, mais experiente. Suas palavras soam reais, e confesso que me peguei até pensando o que teria acontecido na vida pessoal de Morrissey, para ele escrever uma letra dessas.

Como letrista, Morrissey está sozinho. Ninguém lhe faz sombra. E nesse estilo naturalista, de descrição de situações e personagens, só consigo pensar em dois letristas que chegam perto: Ray Davies e Neil Young. Fica a dúvida: se Morrissey tivesse nascido no fim do século 19, faria sombra a Cole Porter? Por que não?

I WILL SEE YOU IN FAR OFF PLACES (letra)
Nobody knows what human life is. Why we come, why we go. So why then do I know I will see you, I will see you in far off places?
The heart knows why I grieve And yes one day I will close my eyes forever But I will see you I will see you in far off places
It's so easy for us to sit together But it's so hard for our hearts to combine And why? And why? Why? Why? Why? Why?
Destiny for some is to save lives But destiny for some is to end lives But there is no end And I will see you in far off places
If your god bestows protection upon you And if the USA doesn't bomb you I believe I will see you somewhere safe Looking to the camera, messing around And pulling faces

Faixas:
1. I Will See You In Far Off Places
2. Dear God, Please Help Me
3. You Have Killed Me
4. The Youngest Was the Most Loved
5. In the Future When All’s Well
6. The Father Who Must Be Killed
7. Life is a Pigsty
8. I’ll Never Be Anybody’s Hero Now
9. On The Streets I Ran
10. To Me You Are a Work of Art
11. I Just Want to See the Boy Happy
12. At Last I Am Born

Veja o vídeo de: "You Have Killed Me"
Ouça o Morrissey no MySpace: www.myspace.com/morrissey
Site oficial: http://www.morrisseymusic.com/
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